segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A caminho do fim


Como é triste ver pessoas que a gente ama se indo, se apagando, chegando ao fim...

Minha Avó materna de 95 anos está muito ruim. Ontem, depois de 6 anos eu voltei a um quarto de CTI. Na experiência anterior assisti o momento exato da morte do meu avô paterno.
Naquele dia pensei que nunca mais queria presenciar uma cena daquelas. Já perdi outras pessoas, mas presenciar o sopro final (é assim mesmo – é uma última expiração, como um esvaziar e fim) aconteceu uma só vez.

Ontem, no quarto com a minha avó temi muito ter que assistir aquilo novamente. Ela estava parcialmente cedada, numa luta para expressar o seu sentimento. Ela estava muito triste, inconformada com a FORMA que está acontecendo.

Ela sempre foi uma mulher forte, a frente do seu tempo, saiu de casa solteira para trabalhar, casou tarde, com 35 anos, teve suas filhas e seguiu trabalhando...vive com o seu marido, de quem tem a companhia (é o amor ciumento) até hoje, depois de 60 anos de casados.

A Melha (é Amélia mas a gente sempre chamou assim) sempre se disse realizada, viu a família crescer, as netas e netos casarem e teve uma bisneta. Por ela, se diz pronta, realizou e viu realizar tudo que desejou para a sua amada família.

Acho que o que ela não suportaria é depois de 95 anos, ficar presa a uma cama, a tubos e fios - isso não é a vida dela.

Nos próximos dias viveremos dias tensos, pois ela se opera na terça a tarde. Eu vou estar em SP, a trabalho até quarta, mas com a cabeça por aqui, esperando que o melhor para ela aconteça...seja a recuperação ou seja o final.

Antes de eu sair do hospital ontem ela estendeu a mão e me puxou, fez um bico, entendi, queria me dar um beijo. Ela é tão incrível, que mesmo naquela situação, conseguiu reunir forças pra mostrar como me ama. Não era preciso – em todas as vezes que nos falamos nessa vida você NUNCA deixou de dizer: A vovó te ama querida.